ANA MADUREIRA & VAHAN KEROVPYAN

Criações, Infância

ESPANTO

Teatro
Todos os públicos
Festival Trip,
Viseu

O espantalho faz o seu trabalho: espanta o corvo, que é um estorvo. O corvo põe um ovo, monta uma tenda e abre uma fenda para um mundo novo. Mas vai haver molho… por causa do olho. O corvo Vicente, o espantalho inocente, o olho dormente, adeus ao passado, saiam da frente, que agora é a gente quem faz o presente!

Um espectáculo de teatro e música que faz perder o medo das alturas e das altezas.

 

Criação, interpretação, texto, música, cenografia, figurinos:
Ana Madureira e Vahan Kerovpyan
Direcção:
Ana Madureira
Pesquisa e apoio dramatúrgico:
Marta Figueiredo
Desenho de luz e direção técnica:
Vasco Ferreira
Contrabacia:
Nuno Guedes
Cigar box:
Emanuel Santos
Produção:
Ana Madureira
Coprodução:
Teatro Aveirense, Comédias do Minho, Fundação Lapa do Lobo
Apoios:
República Portuguesa-Cultura, Associação DesnorteArte, Museu Municipal de Espinho
Agradecimentos:
Ana Lúcia Figueiredo, Alice Juliana Silva, Magda Henriques, Ana Génio, Blaise Powell, Joana Guedes, Márcia Lança, Joana Pupo, Jaime Mears, TEP, Paulo Lobato Costa, Natacha Sampaio, Rui Bandeira, Beatriz dos Panos

 

 

“DO CÓMICO AO CÓSMICO”  – Ana Lúcia Figueiredo

 

O Corvo e o Espantalho são as personagens graves, mas divertidas, que nos contam a história numa metáfora aparentemente simples e indiscutivelmente criativa sobre o mundo e a humanidade. Por isso, quando penso neste “Espanto”, ocorre-me de imediato o título “Do Cómico ao Cósmico”, de um poema de Luiza Neto Jorge.

Poderíamos chamar-lhe Manifesto de Liberdade, uma vez que coloca o ‘medo’ e a ‘regra’ como instrumentos de controlo da figura simbólica O Olho, ‘ sempre aberto, para ver se tudo está certo’. E o Espantalho vive limitado, no espaço (‘Fora do campo!’) e no tempo ( ́Faço o meu trabalho’), até ser provocado pelo Corvo, personagem construída a partir do conto “Vicente”, do livro Bichos, de Miguel Torga. A coragem, a rebeldia e a autonomia do pássaro, com música muitas vezes acompanhada por palmas do público, revelam uma narrativa política com uma lucidez clownesca. Poderíamos chamar-lhe também Elogio da Voz: ‘Calado é que eu não fico/ aqui não me sinto em casa/vou abrir a minha asa/ e sair da embarcação’. Quando assim canta o Corvo, faz ‘eco’ no Espantalho e no espectador, anunciando a subversão da mudança, mas não sem alguma resistência, com direito a luta de espadachim, durante um excerto de diálogo em francês do livro Le Petit Homme et Dieu, de Kitty Crowther. “Eu percebi omelette”, ouve-se na plateia. Ou não fossem os ovos uma presença em metamorfose constante, como o exercício filosófico de questionamento: ‘O que é que veio primeiro: o ovo… ou o corvo?’.

Poderíamos chamar-lhe ainda Breve Tratado do Espanto, no sentido em que relata a descoberta extraordinária da aventura, do perigo e da amizade, ao mesmo tempo que o cenário se vai desconstruindo, para dar origem ao desconhecido, ao inesperado, ao novo.

Poderíamos chamar-lhe muitas coisas, mas “Espanto” é quanto basta para sairmos da sala de espectáculos com um sorriso, que canta e dança e rima e ri… Este “Espanto” é de esperança e perseverança. E, quando termina, (re)começa em cada um de nós.

Como diz José Tolentino Mendonça: “O espanto obriga-nos a uma revisão do que sabemos de nós próprios e do mundo. Obriga-nos a recomeçar, como se fosse um nascer. O amor, o conhecimento, a poesia ou a santidade principiam com ele” (in O pequeno caminho das grandes perguntas).

 

 

30 março 2024 – Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra

11-12 janeiro 2024 – MAPO – Mostra de Artes Performativas de Odemira

5-6 outubro 2023 – Teatro Viriato, Viseu

17 setembro 2023 – Corpo de Hoje — Festival de Artes Performativas, Loulé e Tavira

10 setembro 2023 – Cultura em Expansão — Bairro Pinheiro Torres, Porto

3 junho 2023 – DesnorteArte — Arcozelo

14 maio 2023 – BioBlitz — Fundação Serralves, Porto

4 março-30 abril 2023 – Comédias do Minho — Valença, Monção, Melgaço, V. N. Cerveira, P. de Coura

15-25 fevereiro 2023 – CIAJG, Guimarães

8-10 maio 2022 – Teatro Aveirense (estreia)

3-7 maio 2022 – Fundação Lapa do Lobo (ante-estreia)

foto: © Patrick Esteves / Comédias do Minho