Estou de olhos vendados e sou guiada por uma pessoa, que me passeia por uma área que lhe seja familiar, que faça parte das suas rotinas ou das suas memórias- a sua rua, o seu bairro, a sua casa. No final, num mapa-livro registo livre e subjectivamente a geografia emocional de cada passeio.
O facto de estar de olhos vendados coloca-me numa posição de fragilidade que é equilibrada pela responsabilidade e urgência sentidas por quem me guia. Isto traz uma cumplicidade não só de espírito mas também de corpo: o braço dado, o desvio dos obstáculos, a voz que ordena, dirige, previne. Há uma subtil inversão de papéis: eu que sou guiada por um percurso físico, guio por um percurso emocional. Absorvo os pormenores da experiência e provoco determinadas conversas, despertando memórias e sensações, tudo matéria que enformará o mapa-livro.
A ilustração é aqui uma ferramenta que dá forma a experiências intimistas. Pelo prazer de olhar as pessoas atentamente, entrar no seu mundo como quem entra num lugar sagrado e aí remexer no silêncio, nas palavras, na dança do quotidiano que se torna poesia e inspira a criação.
O Guia-me foi criado em 2011, no Porto, a convite do projecto Casa das Brincadeiras para o Festival Manobras.
Criação, mapas ilustrados:
Ana Madureira
Guias:
Sr. Lino, D. Orquídea, D. Maria José, Sr. Vilela, D. Fátima, D. Joaquina, D. Helena, D. Fernanda, D. Adelaide, D. Carlota